sexta-feira, 26 de julho de 2013

Alta do dólar no ano não reduz procura de imóveis nos EUA

Miami. Cidade da Flórida concentra a maior parte dos imóveis estrangeiros ofertados para venda no Brasil (Imagem: Divulgação)

 FELIPE CORDEIRO E IDIANA TOMAZELLI
 ESPECIAL PARA O ESTADO

A valorização do dólar, cotado a R$ 2,23 na segunda-feira (22/7) e com avanço superior a 10% no ano, não desanimou os consumidores dispostos a investir no mercado imobiliário no exterior, pelo contrário. Em Miami – maior polo além-fronteiras de unidades ofertadas ao nosso mercado, 12% dos negócios firmados com estrangeiros em 2012 envolveram brasileiros, que seguem com interesse em alta, segundo a Associação de Corretores de Miami (MAR, em inglês).
“A alta do dólar não impactou a ponto de fazer da aplicação um mau negócio”, diz o professor Alessandro Francisco, da pós-graduação em Negócios Imobiliários da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). “O mercado está em expansão, até o limite de ajustes de renda e preços nos imóveis nos EUA.” Por aqui, sites de ofertas já pensam em abrir uma página para que consumidores busquem imóveis no exterior. O Imovelweb, por exemplo, deve lançar a sua até o fim do mês.
A apreciação da moeda norte-americana também poderia ser relativizada, na medida em que o fortalecimento do dólar levou mais pessoas a buscar ativos nessa moeda. Além disso, muitos compradores já têm reservas em dólar: “Para quem tem condições de investir em outra moeda, faz sentido comprar imóveis no exterior”, diz o professor de Finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) Mário Amigo.
Os preços das unidades nos EUA, segundo analistas, seguem baixos se comparados ao mercado nacional, refletindo ainda o estouro da bolha de 2008. Eles estimam que a desvalorização desde a crise chegue a 40%, além de não haver sinais de forte apreciação das propriedades no curto prazo.
Perfil. Em Miami, há regiões em que o metro quadrado custa entre US$ 300 e US$ 500 para imóveis padrão, e entre US$ 500 e US$ 1 mil para bens de luxo, segundo a MAR. Nas corretoras locais, o valor médio do metro quadrado é de US$ 2 mil.
De acordo com o presidente da entidade e coordenador regional para América do Sul da Associação Nacional de Corretores dos EUA, Francisco Angulo, o brasileiro que busca esses imóveis tem entre 40 e 50 anos e vê no negócio a chance de diversificar investimentos, aplicando em uma moeda mais segura (veja mais detalhes nos gráficos). O retorno esperado para aqueles que compram pensando em locar é de 5% a 8% anuais, segundo corretores. Além disso, há quem aposte na valorização do imóvel no longo prazo.
O número de compras financiadas na região apresenta uma trajetória ascendente uma de 15% em 2011 para 19% no ano passado. Por lá, as taxas de juros são mais baixas (entre 4,5% e 5%), e o dinheiro dos brasileiros tem sido cada vez mais visado pelos bancos, afirma o corretor Alan Araújo, da Sotheby’s International Realty, corretora especializada.
Em 2009, um apartamento de 75 metros quadrados na área residencial de Coconut Road passou a ser o endereço do empresário João Patrick em suas viagens a Miami. Motivado pela alta dos imóveis no Brasil, ele aproveitou a desvalorização nos Estados Unidos para aplicar US$ 185 mil em uma propriedade “foreclosure” – o antigo dono deixou de pagar o financiamento e perdeu o direito sobre o bem. Hoje, ele avalia o apartamento em US$ 300 mil.
Quando está no Brasil, Patrick aluga o imóvel para terceiros e recebe cerca de US$ 2,9 mil por mês. “Ele fica alugado boa parte do ano. O retorno que tenho é muito bom”, diz. Hoje, o empresário já pensa em adquirir o segundo imóvel em Miami, desta vez para uso comercial.
Os imóveis comerciais têm surgido como uma boa oportunidade de negócio em Miami, com taxas de retorno entre 6% e 10% ao ano. Há três modalidades, de acordo com o diretor comercial da corretora Elite International Realty, Alex Wolak.
Uma delas é o Triple Net, propriedades prontas destinadas à locação para grandes redes varejistas norte-americanas. A vantagem desse investimento é que o contrato de aluguel, renovável, tem duração de 20 anos e garante que o proprietário receberá o valor integral ainda que o locatário saia antes do prazo.
Além disso, responsabilidades como seguro predial, impostos e reparos na estrutura são exclusivamente do inquilino. O valor do metro quadrado desses estabelecimentos vai de US$ 3 mil a US$ 10 mil. Em Orlando, há Triple Nets a US$ 5,6 mil por metro quadrado, com taxa de retorno de 6,5% ao ano.
Para investidores menores, há a opção de empreendimentos “multifamily”, edificações com um número reduzido de apartamentos. A pessoa se torna proprietária do prédio e fatura todos os aluguéis, investindo a partir de US$ 400 mil. Em Tampa, na Flórida, é possível encontrar propriedades a US$ 2,2 mil por m², com retorno de 7,5% ao ano. Outra opção são os galpões comerciais, cujo valor de compra é a partir de US$ 120 mil. Em Miami Lakes, por exemplo, o retorno é de 8% ao ano.
Aquisição. A orientação de uma corretora local em negócios no exterior é importante, pois cada localidade tem um procedimento de venda. “Nos EUA, o comprador solicita a reserva do imóvel e, se a proposta é aceita, é feito um agendamento num cartório, onde tudo é pago”, explica o diretor de comercialização e marketing do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Antonio Conde. “No Brasil, é dado um sinal para o corretor.”
Especialistas recomendam também a avaliação da demanda de aluguéis na região pretendida e os custos do imóvel. Em Miami, por exemplo, quem paga o condomínio e os impostos é o proprietário, não o inquilino. Além disso, é preciso declarar o bem e os rendimentos à Receita Federal.

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