quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Com mix de padrões, casal torna quintal de casa mais aconchegante

12/09/2013 - 07h29 
MICHAEL TORTORELLO
DO NEW YORK TIMES, EM SAN DIEGO
Fonte: http://classificados.folha.uol.com.br/imoveis/2013/09/1340447-com-mistura-de-padroes-casal-dos-eua-torna-quintal-espaco-mais-aconchegante.shtml

Era uma noite de quinta-feira quando a marinha dos Estados Unidos notificou Ryan Benoit, 37, de que, no lugar de coordenar a reforma do Essex, um navio de assalto aéreo e anfíbio de 257 metros de comprimento, era melhor que ele tomasse um gim e tônica com a mulher e cuidasse de regar as tristes alfaces de sua horta.

Por conta do impasse criado pelo Congresso quanto ao corte compulsório de verbas orçamentárias, ele estava dispensado de trabalhar na sexta-feira. E Benoit, engenheiro portuário na vida civil e tenente-comandante na reserva da marinha, decidiu passar o feriado acidental no jardim.

"Fui instruído a não atender o telefone", disse Benoit. Para ele, essa indolência era um choque. "Estou sempre fazendo alguma coisa. Raramente tenho tempo para relaxar".

Mas ordens são ordens. E ele tinha trabalho a fazer em casa, além disso, uma renovação do quintal, projeto quase tão ambicioso quanto a reforma de um navio de combate, mas um pouco menos dependente de suprimentos industriais.

Há quatro anos, Ryan e sua mulher Chantal Aida Gordon, 30, estão criando o mais aconchegante dos ambientes a céu aberto, a dois quarteirões do paraíso do surfe conhecido como praia Windandsea, no bairro de La Jolla, em San Diego.

A casa é uma modesta unidade alugada, com dois quartos e um banheiro, pouco mais de 65 m² por US$ 2.200 ao mês (pouco mais de R$5.000). Nada a dizer sobre ela. Mas o quintal? Será um lugar para dar jantares, assistir a jogos do San Diego Chargers e guardar pranchas de surfe, tomar uma ducha, plantar cactos e goiabeiras, preparar coquetéis e dormir durante as ressacas, lendo exemplares atrasados da revista "New Yorker". Você sabe de que tipo de espaço estou falando.

Jardim em foco

Laure Joliet/The New York Times
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O jardim conta com um telão para projeções e exibição de filmes
Também será um espaço para blogar. Desde o trimestre passado, o projeto de design do casal se transformou em um site de jardinagem e decoração, TheHorticult.com. O quintal agora serve de cenário para fotografar buquês decorativos feitos em casa e botas de jardinagem da Le Chameau.

É muita coisa a esperar de um espaço pavimentado de 13,40 por 16,80 metros. Especialmente se levarmos em conta que o casal está construindo praticamente toda a mobília e plantando todas as floreiras. O trabalho exige muito deles, mas é possível dizer que o jardim está mudando o casal tanto quanto Benoit e Gordon estão mudando o jardim.

REFÚGIO

Julian Mackler, velho amigo que fotografou o casamento dos dois, acompanhou essa mudança. "Algumas pessoas gostam de ficar olhando e algumas coisas gostam de colocar a mão na massa", ele disse ao telefone, de Nova York. "Nunca vi gente da minha idade cuidar tanto de um jardim, a não ser que sejam hippies".

Gordon deixou a Universidade de Nova York e assumiu um posto de assistente editorial na sucursal da revista "Vogue" na costa oeste. Benoit estudou na academia de marinha mercante dos Estados Unidos, em Kings Point, Nova York. E para um casal vindo da costa leste, a busca de um espaço clássico do sul da Califórnia envolveu também uma mudança de consciência.

"No trabalho, estou em ambiente industrial, sem plantas, nada, só uma estrutura de aço", diz Benoit. "Quando volto para casa, é o oposto". Gordon olha com simpatia para o marido. "Você não acha que alguns daqueles velhinhos plantam tomates?"

O blog revelou as inclinações vegetais de muitos de seus amigos urbanos. "Não consigo acreditar quanta gente se empolgou com a história do jacarandá", ela diz, falando de um post sobre as árvores onipresentes em San Diego, que florescem em tons de púrpura no final de maio. "Dez anos atrás, eu nem reconheceria um jacarandá".

Benoit acrescenta: "E eu não reconheceria um jacarandá quatro meses atrás".
Gordon afirma que "isso aprofunda a experiência, caminhar por uma rua e saber que árvores você está vendo". 

Antes de Gordon se tornar jardineira, ela escrevia. Começou a trabalhar como voluntária em uma horta comunitária em Nova York para pesquisar para um romance, que seu agente está tentando colocar no mercado. Intitulado "The Fame and Exile of the Lotus Eaters", a história acompanha as aventuras de uma nerd adolescente que descobre uma nova variedade de lótus.

"A flor se torna sucesso instantâneo em Manhattan, como essas coisas acontecem", ela diz. "As coisas vão por água abaixo quando os amigos dela começam a usar a flor como droga para ajudá-los nos estudos". 

O emprego diurno de Gordon é como redatora anônima para um consultor de estratégia de negócios. Antes de ser jardineiro, Benoit era fotógrafo. Em suas viagens como reservista, ou em companhia de Gordon, ele lotava os cartões de memória de suas câmeras de fotos de plantas.

Não era incomum que ele convencesse a mulher a posar para essas fotos. Em termos botânicos, Gordon seria classificada como sinuosa, com cabelos castanho avermelhados e uma compleição rósea. Em termos mais simples, ela é o tipo de mulher que todo mundo olharia em uma casa noturna, que foi onde o casal se conheceu. "Você é fácil de fotografar, nenê", ele diz. "Obrigado, nenê", ela responde.

TUMULTO DE PADRÕES

A casa que os dois alugaram quando recém-casados, seis anos atrás, não tinha coisa alguma de especial. O que é uma descrição provavelmente generosa. Como diz seu amigo, e vizinho da frente, David Deitch, "a casa era uma bagunça, antes de eles chegarem". Gordon recorda que o "a figueira do vizinho invadia nosso quintal". Benoit acrescenta que "não tínhamos muito com que trabalhar". 

Qualquer que fosse a estética do casal, àquela altura, eles não gostavam de descuido. Descobriram uma expressão para seu estilo de vida nascente durante viagens de final de semana a Palm Springs, Califórnia, onde desfrutaram do conforto de lugares como o Ace Hotel (reformado pelo escritório de design Commune, de Los Angeles), e o Parker Palm Springs (de Jonathan Adler).

Cada quarto e pátio parecia servir de demonstração para um material diferente. Cerâmicas e azulejos contrastavam com otomanas de couro e tapetes navajos. Gordon descreve o estilo como "um tumulto de padrões e cores diferentes. Você não acredita que vá funcionar, mas faz muito sentido emocionalmente".

Ela e Benoit começaram a reimaginar sua casa construída nos anos 50 da forma que ela poderia ter sido fotografada em um artigo para a revista "Sunset", nos anos 60. Benoit se deixou influenciar pela filosofia de design de reis da arquitetura do sul da Califórnia como Richard Neutra e Rudolph Schindler.

"Gostamos da ideia de sair da casa e encontrar outro espaço social do lado de fora", ele diz. Mas eles não puderam criar uma parede de vidro. "Se a casa fosse nossa, seria bacana poder abrir o espaço". "Para que você pudesse ver direto até o outro lado da piscina", diz Benoit.

Mas claro que tampouco havia piscina. E por mais que o casal curtisse os móveis vintage das lojas de Palm Springs, ele afirma, "não tínhamos dinheiro para nada daquilo".

A mobília que eles podiam comprar, ele recorda, era um lixo. Especificamente, sobras industriais de um armazém perto dos estaleiros onde, ele diz, "eles vendem coisas por preços pouco acima do ferro velho". Foi assim que terminaram com floreiras feitas do corpo da sirene de um navio, maior que um saxofone.

Ou com a mesinha de bar a céu aberto à qual Benoit estava acomodado. "Eu defino como um fuso rolante de entretenimento", ele diz.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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